Praça Nossa Senhora de Nazaré em Anchieta/RJ |
Muitos clássicos de bairro aconteciam na várzea da Praça Nossa Senhora de Nazaré, ao lado da igreja de mesmo nome, em Anchieta. O Esporte Clube Royal e o Mocidade Futebol Clube tiveram seus dias de glória, inclusive revelando grandes jogadores do futebol carioca, mas, no início dos anos 60, quem comandava a várzea era o Anchieta Futebol Clube. O time que antes tinha como maior craque um rapaz conhecido como "Orelha de pau", futuro jogador da equipe veterana de um dos rivais, em um passe de mágica montou um elenco quase profissional que chegou a disputar a divisão de acesso do campeonato carioca.
Obviamente, tinha alguém por trás daquela máquina de jogar bola. Lógico, com algum interesse.
Essa pessoa, por incrível que pareça, estava dentro de campo: Tarzan, o goleiro. Na verdade, ele atuava como goleiro apenas nas horas vagas e não tinha nenhum talento para a posição. Seu apelido também nada tinha a ver com alguma peripécia que ele pudesse fazer embaixo das traves. Mesmo assim, ele sempre podia jogar. Afinal, era o dono do time. Esse personagem enigmático era bicheiro na região nos áureos tempos do jogo, em que o dono das bancas se tornava um semi-deus, além de ser reconhecido como uma figura folclórica, sempre com cordões de ouro e blusa aberta. O mito de Tarzan foi reforçado por ele ser o único goleiro que jogava armado do qual se teve notícia na história do futebol.
Embora tivesse gozado de certo sucesso financeiro com as jogatinas, ele jamais se esquecera do seu sonho de ser jogador de futebol. Tarzan não gostava de ver seu time perder, tanto que montou um bom elenco para impedir o adversário de chutar ao gol. Porém, às vezes, mesmo com toda a competitividade, era inevitável. A derrota parecia iminente em algumas ocasiões. Então, como ninguém tinha ouvido falar em fair-play, o goleiro dava um jeito de mudar as diretrizes do jogo. Aliás, era esse seu maior talento. Do nada, após o intervalo, o Anchieta reagia de maneira surpreendente. Era inacreditável como o adversário parava para assistir ao time de Tarzan dentro de campo.
Assim foi criada uma das maiores invencibilidades da história do futebol, mesmo não sendo conquistada na bola.
(Crônica da várzea de Anchieta)
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