Por
Renan Castro
Após dois fracassos seguidos da Seleção Brasileira e
o aniversário de 1 ano do #7a1, borbulham na imprensa esportiva diagnósticos
que tentam decifrar as razões para o declínio do nível do nosso futebol. Entre
as várias hipóteses, algumas são consenso: A falta de planejamento nas
categorias de base e no profissional, a ordem capitalista mundial que nos
relega à periferia do mundo e nos impede de resistir às investidas dos clubes
de fora pelos nossos melhores jogadores, a desatualização tática, o despreparo
psicológico de nossos atletas, entre outras.
Não vou tentar comparar essa seleção com a que
tínhamos há dez anos, cheia de craques consagrados, o que nos dava essa
sensação de “termos um time” e vários caras que poderiam resolver o jogo a
qualquer momento. Nas Copas de 1998, 2002 e 2006, tínhamos ao menos três homens
no time titular capazes de nos salvar em situações difíceis, como várias vezes
fizeram. Por conta dessas comparações, muitos chegam à conclusão simples de que
essa geração está fadada ao fracasso por não ter esses caras, e depender apenas
do Neymar, hoje o único considerado craque da Seleção.
Esse argumento se desfaz ao observarmos onde jogam e
como jogam alguns jogadores que fazem parte frequentemente do grupo da Seleção
Brasileira hoje:
Jefferson
– Botafogo
Danilo
ou Daniel Alves – Real Madrid ou Barcelona
Thiago
Silva – PSG
Miranda
– Inter de Milão
Marcelo
– Real Madrid
Luiz
Gustavo – Hoffenhein
Oscar - Chelsea
Willian - Chelsea
Firmino - Liverpool
Phillipe
Coutinho - Liverpool
Neymar
– Barcelona
A
partir dessa lista conseguimos observar duas coisas: 1 – Nossos jogadores jogam
nos melhores clubes da Europa, são destaques e titulares. 2 – Enquanto sobram
atacantes e jogadores de defesa, faltam jogadores de meio-campo protagonistas,
para dividir a responsabilidade com Neymar pela criação das jogadas e para
decidir os jogos.
Se
nossos jogadores jogam bem fora do país em seus clubes, por quê isso não
acontece na Seleção? A questão tática aparece iluminada como a resposta certa a
essa pergunta. Durante um jogo, o jogador, salvo raras exceções, faz aquilo que
o técnico manda, somente. E nessa área temos Dunga e outros técnicos
ultrapassados que ainda trabalham e têm muito mercado, com muita moral, em times
da série A do Brasileirão.
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Negueba em sua época de Flamengo até então, uma "promessa". |
A
falta de meias se relaciona diretamente com a formação de nossos jogadores. Há um tempo li uma crônica do Tostão sobre isso, na qual ele falava sobre o nosso país de “Neguebas”. Nada contra o
atacante da alegria nas pernas, mas o nome dele foi usado naquele texto para
exemplificar como viramos reféns de um estilo de jogo baseado mais na força
física e na velocidade do que no talento. Com isso cada vez mais surgem
jogadores como Negueba, Cirino, Bernard, Osvaldo, Rhayner, e menos Gansos, Lucas
Limas e Gérsons.
E
Dunga justifica a opção por este tipo de jogador no esquema tático que usa na
Seleção desde que assumiu em 2006, e quando reassumiu no ano passado: Um time
rápido nos contra-ataques, que tem boas exibições contra times que agridem, mas
que não é capaz de propor o jogo contra times fechados.
Este
não é um diagnóstico definitivo, nem uma defesa de um técnico estrangeiro no
comando da seleção, longe disso. Temos pessoas preparadas para assumir a
Seleção e que, provavelmente conseguiriam impor um padrão tático mais
consistente, que mude a o conceito de jogo e faça a Seleção propor mais o jogo
e não privilegiar apenas volantes fortes e jogadores de velocidade pelos lados
do campo. Essa mudança só será efetiva se acontecer junto com mudanças
estruturais radicais em nosso futebol.