quarta-feira, 8 de julho de 2015

A falácia da geração ruim

Por Renan Castro

Após dois fracassos seguidos da Seleção Brasileira e o aniversário de 1 ano do #7a1, borbulham na imprensa esportiva diagnósticos que tentam decifrar as razões para o declínio do nível do nosso futebol. Entre as várias hipóteses, algumas são consenso: A falta de planejamento nas categorias de base e no profissional, a ordem capitalista mundial que nos relega à periferia do mundo e nos impede de resistir às investidas dos clubes de fora pelos nossos melhores jogadores, a desatualização tática, o despreparo psicológico de nossos atletas, entre outras.

Não é meu objetivo apontar as mudanças estruturais que devem ser feitas fora de campo, que são muitas, e dariam um post bem mais extenso que este. Vou me ater aos problemas dentro de campo, onde  uma tese em especial muito repetida, me incomoda bastante: A de que temos uma geração ruim. Meu incômodo ganhou mais embasamento ainda depois que vi o levantamento trazido à luz pelo sempre ótimo 'Trivela', que mostra que nossos jogadores estão entre os melhores do mundo na maioria das posições, de acordo com os critérios objetivos usados na pesquisa.

Não vou tentar comparar essa seleção com a que tínhamos há dez anos, cheia de craques consagrados, o que nos dava essa sensação de “termos um time” e vários caras que poderiam resolver o jogo a qualquer momento. Nas Copas de 1998, 2002 e 2006, tínhamos ao menos três homens no time titular capazes de nos salvar em situações difíceis, como várias vezes fizeram. Por conta dessas comparações, muitos chegam à conclusão simples de que essa geração está fadada ao fracasso por não ter esses caras, e depender apenas do Neymar, hoje o único considerado craque da Seleção.
Esse argumento se desfaz ao observarmos onde jogam e como jogam alguns jogadores que fazem parte frequentemente do grupo da Seleção Brasileira hoje:

Jefferson – Botafogo
Danilo ou Daniel Alves – Real Madrid ou Barcelona
Thiago Silva – PSG
Miranda – Inter de Milão
Marcelo – Real Madrid
Luiz Gustavo – Hoffenhein
Oscar - Chelsea
Willian - Chelsea
Firmino - Liverpool
Phillipe Coutinho - Liverpool
Neymar – Barcelona

A partir dessa lista conseguimos observar duas coisas: 1 – Nossos jogadores jogam nos melhores clubes da Europa, são destaques e titulares. 2 – Enquanto sobram atacantes e jogadores de defesa, faltam jogadores de meio-campo protagonistas, para dividir a responsabilidade com Neymar pela criação das jogadas e para decidir os jogos.

Se nossos jogadores jogam bem fora do país em seus clubes, por quê isso não acontece na Seleção? A questão tática aparece iluminada como a resposta certa a essa pergunta. Durante um jogo, o jogador, salvo raras exceções, faz aquilo que o técnico manda, somente. E nessa área temos Dunga e outros técnicos ultrapassados que ainda trabalham e têm muito mercado, com muita moral, em times da série A do Brasileirão.

Negueba em sua época de Flamengo até então, uma "promessa".
A falta de meias se relaciona diretamente com a formação de nossos jogadores. Há um tempo li uma crônica do Tostão sobre isso, na qual ele falava sobre o nosso país de “Neguebas”. Nada contra o atacante da alegria nas pernas, mas o nome dele foi usado naquele texto para exemplificar como viramos reféns de um estilo de jogo baseado mais na força física e na velocidade do que no talento. Com isso cada vez mais surgem jogadores como Negueba, Cirino, Bernard, Osvaldo, Rhayner, e menos Gansos, Lucas Limas e Gérsons.

E Dunga justifica a opção por este tipo de jogador no esquema tático que usa na Seleção desde que assumiu em 2006, e quando reassumiu no ano passado: Um time rápido nos contra-ataques, que tem boas exibições contra times que agridem, mas que não é capaz de propor o jogo contra times fechados.


Este não é um diagnóstico definitivo, nem uma defesa de um técnico estrangeiro no comando da seleção, longe disso. Temos pessoas preparadas para assumir a Seleção e que, provavelmente conseguiriam impor um padrão tático mais consistente, que mude a o conceito de jogo e faça a Seleção propor mais o jogo e não privilegiar apenas volantes fortes e jogadores de velocidade pelos lados do campo. Essa mudança só será efetiva se acontecer junto com mudanças estruturais radicais em nosso futebol. 

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