quinta-feira, 30 de julho de 2015

O CRAQUE DO TÁXI

Por Victor Escobar

Anchieta é um bairro muito futebolístico. Nas manhãs de domingo, por exemplo, muitos ex-jogadores são facilmente encontrados nos campos e nos bares das redondezas. A maior concentração fica, sem dúvida alguma, no Bar do Raimundo, cujo dono é um simpático tricolor. A quantidade de craques do passado reunidos por metro quadrado chega a superar o número de entusiastas, saudosistas, veteranos das equipes acima de 50 anos, jogadores de sinuca, pagodeiros falidos, torcida, funcionários dos clubes e alcoólatras que se reúnem nos campos do Anchieta e do Mocidade juntos. 
Lá no seu Raimundo, entre as recordações de Zeca Coimbra, o maior craque do Esporte Clube Anchieta, e pedidos de cerveja fiado, tive a oportunidade de conhecer Almir, um senhor octogenário que passou por todas as divisões de base e começou a carreira de jogador profissional no gramado do Anchieta. 

Na verdade, ele só era chamado pelo seu nome de verdade fora de campo, porque dentro dele o jogador era conhecido como "Branco". Mas ele explica: na época, quando foi promovido à equipe profissional, subiu com ele um xará. Então, para diferenciar um de outro, ele ficou sendo o Branco e, o outro, o Preto. Assim ninguém nunca mais os confundiu. 

Foi lá também que descobri que o bairro é uma verdadeira fábrica de craques. Os nomes do passado não paravam de surgir. Alguns chegaram à seleção brasileira. Outros, à Europa. Mas nunca saíram de Anchieta. A lista é enorme: Murilo e Foguete, craques do Flamengo; Quincas, fantástico ponta esquerda do Fluminense de 51; Joel, beque do Botafogo que depois se tornou técnico...

Até que eu ouvi falar de Walter Prado, um veloz centroavante que chegou a ter uma carreira de sucesso. Para muitos, ele foi um dos maiores atacantes de Anchieta, se não o maior.  Depois de ser descoberto pelo Esporte Clube Royal e de não ter sido valorizado no Flamengo, o camisa 9 se consagrou como um dos maiores jogadores da história do Bonsucesso, passou pelo Fluminense, Palmeiras, Náutico, por diversos times de São Paulo, e, pasmem, bateu bola até na União Soviética.
Mas mal sabia eu que o mítico Walter Prado foi nada mais nada menos do que o taxista do meu saudoso avô.

Sim, o atacante que estreou pelo Juventus-SP com um golaço no amistoso contra o temido Jabaquara, no final da vida, foi fiel taxista do meu avô!  Como isso foi acontecer, ainda não descobri. Mas, pelo menos, quando pequeno, tive a oportunidade de andar no táxi de Walter Prado, um dos maiores atacantes, se não o maior, da história de Anchieta.


(FOTO: Recorte do jornal A GAZETA ESPORTIVA, de 11 de fevereiro de 1963. Acervo da família de Walter Prado)

Nenhum comentário:

Postar um comentário