quarta-feira, 27 de maio de 2015

DOENÇA AUTOIMPUNE


Foto: Diego Pérez - 23/05/2015 - Gonçalense x Americano (Campeonato Carioca Série B)












Eu sou o cara que grita no alambrado.
Eu sou o cara que morde os nós dos dedos
Quando o gol quase sai.
Sou o cara que destrói a reputação
Da mãe do juiz - sem conhecê-la.
O cara que cospe no bandeirinha.
Eu sou o cara que fica pedindo bola,
Gritando o tempo inteiro: “Toca no lateral!”
Eu sou o cara que manda o lateral abrir
E pedir bola. “Vai, orelhudo, pede bola!”
Eu sou o cara que compra um Fofura no intervalo
E desce as arquibancadas pra fumar
Na parada técnica.
Que canta todas as músicas da torcida organizada,
Que manda a torcida adversária tomar no cu
- mesmo sem nem enxergar direito quem são,
Ou ter interesse algum no usufruto anal alheio.

Eu sou o cara.
O cara que abraça o desconhecido ao gritar gol.
O cara que grita gol até quando não é.
Que vê impedimento fantasma,
Pênalti inexistente, má-vontade do gandula,
- mas não vê falta em chutar a cara do inimigo.
O cara que sai do estádio cabisbaixo,
Sem ver solução para a vida, 
Quando vê empatar jogo fácil,
Ou perder jogo difícil.
Que beija a bandeira, cospe a palavra,
Que consegue ver paz entre muçulmanos e israelenses
Quando meu time vence.
E meu time vence.
Embalado pelas vozes apaixonadas
De milhares, centenas, dezenas, um.
Eu.

Porque eu sou só mais um cara
Que gosta de futebol.




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