quinta-feira, 21 de maio de 2015

O dia em que me senti Presidente do Brasil...

Hoje, reencontrei em Niterói, o peruano Diego Pérez que cursa antropologia na UFF (Universidade Federal Fluminense) que vem ficando cada dia meu amigo, eu o conheci por acaso, quando uma amiga me convidou para ir a Praça da Cantareira (localizada também em território niteroiense), não sei como, mas o nosso primeiro contato foi falando sobre futebol, era ano de Copa do Mundo no Brasil, quando íamos conversando e bebendo cerveja, reparei que pelo seu sotaque que não era brasileiro, logo perguntei de onde ele era, quando soube que era peruano, falei dos times de lá e isso o impressionou pelo fato de eu ser brasileiro e conhecer tanto (acima da média brasileira pelo o menos), o futebol do Peru (isso, por si só, já simboliza muita coisa, como o quanto nós brasileiros, conhecemos mais a Europa por exemplo, do que os nossos vizinhos). 

Rebello e Pérez: Alianza e Flamengo - futebol e cultura sem fronteiras
Depois daquele dia seguimos mantendo contato pelo Facebook, e o futebol, mais uma vez foi crucial para além da troca de informações selarmos nossa amizade. Pérez é um grande estudioso de futebol assim como eu, buscando sempre compreender e problematizar o quanto esse esporte bretão pode ser tão influente em todas as partes do mundo e como seu uso pode vir a ser político, estratégico mas também como pode ser a porta de entrada para o conhecimento de outras culturas, como experiência particular: aprendi quando guri muito sobre geografia, fuso horário e história através das transmissões que assistia das Copas do Mundo e sempre tinha mentalmente pontos de referências de lugares que nunca fui e acabava pesquisando inconscientemente outras coisas que fugia totalmente do esporte e compartilhava com outros adeptos ou até mesmo com quem não suportava o tal "ópio do povo" vulgo futebol e até hoje devo bastante a essa modalidade esportiva o enriquecimento de meu reportório cultural. 

"Acordo Diplomático": rubro-negro Pérez e blanco y azul Rebello
Nessa tarde, parecia até encontro de presidentes de Brasil x Peru (claro que isso é uma brincadeira)
e até nos chamamos de presidentes, pois conversamos de questões indígenas, diferenças culturais à políticas tanto as daqui quanto as de lá e claro, para selarmos o nosso "acordo diplomático" trocamos as camisetas de nossos clubes de coração (Flamengo e Alianza Lima) assim representando de maneira simbólica os nossos países. Atitude a meu ver mais sincera do que tivéssemos nos presenteados com as camisas das seleções brasileira e peruana, pois para começar nem todos os brasileiros e peruanos são adeptos as suas seleções e tampouco aos clubes, logo o mais honesto, já que não iríamos abranger a todos, mas sim tínhamos como meta mesmo que singela, de representar nossos países via futebol, ou seja através dos clubes que somos torcedores mas isso não significa que a troca de camisas de seleções não seria válida. Contudo, a maioria dos torcedores, não tem nem a metade da identificação com as seleções como se tem com os clubes de coração.

ClVb Alianza Lima
Pérez ficou surpreso quando lhe disse que preferia o Flamengo à Seleção Brasileira (torço para ambos mas não tem como comparar a minha torcida pelo Mengão), como argumento de sua surpresa, ele disse que a seleção brasileira ganhou muitos títulos ao contrário da peruana que tem como meta principal voltar a disputar uma Copa do Mundo, mas o que vale, é a nossa identificação: com o que temos contatos mais vezes e que sentimos presentes e não apenas mero espectadores como somos das seleções, salvo em época de torneios continentais e mundiais, de resto, como "torcedores clubísticos" temos vários rituais, como o de Pérez e os demais torcedores se recusam a escrever a letra "U" quando se tem que escrever o nome do Club Alianza Lima logo a grafia muda para Clvb Alianza Lima, tudo porque o "U" substituído pelo "V" simboliza o escudo de seu arquirrival, o Club Universitario de Deportes, dificilmente vemos algo assim com os torcedores de seleções nacionais.

E assim o futebol estreita contatos de amizade, de pesquisa e profissional, visto que eu já trabalho com futebol e em breve, acredito que o Pérez também trabalhará seja fora ou dentro da acadêmia, sábado próximo o levarei em Itaboraí para assistir Gonçalense x Americano de Campos dos Goytacazes, jogo válido pela Taça Corcovado, segundo turno do Campeonato Carioca Série B, ele se mostrou bastante entusiasmado sobre essa perspectiva de futebol "lado b", de como é consumido pelo público sendo que os atrativos na perspectiva comercial seria baixa, por ser tratar de clubes pequenos porém há um público fiel que embora não torçam por esses clubes "com o coração" torcem por identificação, seja local ou por alguma outra forma qualquer mas sobretudo por sua paixão pelo futebol e isso, tanto para jornalistas, geógrafos e antropólogos é um prato cheio ou melhor é como se fosse um gol.

Detalhe: posso afirmar que Pérez tornou-se flamenguista de carteirinha, o levei para conhecer a Livraria da Imprensa Oficial que tem um ótimo projeto intitulado como Mais Leitura onde livros novos custam entre R$2 e R$3, Caso o comprador compre dez livros, um exemplar sai de graça mas para isso é preciso fazer a carteirinha no ato da compra. 

E é claro que aproveitamos a viagem para comprar livros não apenas sobre futebol, que por sorte haviam alguns que logo arrematamos.



Atualização: assista abaixo a reportagem do jogo que levei o Pérez para assistir, aproveitei a oportunidade para entrevistá-lo também.


Um comentário:

  1. Sensacional a matéria Rennan. É incrível a maneira que você relaciona geografia, política, cultura e futebol em apenas um assunto. Tudo faz sentido! Abre a "cabeça" do leitor para pensar além do futebol, como as coisas boas que ele proporciona! Parabéns!

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